O empresário Vagner Borges Dias, conhecido como Latrell, foi preso nesta segunda-feira (27) em Jacuípe, litoral da Bahia. Ele era o principal alvo da Operação Munditia e estava foragido desde abril de 2024. Latrell utilizava um nome falso e tinha uma microempresa registrada com identidade fraudulenta. A prisão foi realizada pelo Grupo de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco) da Bahia, com apoio da Polícia Militar.

Foto: Wix.
Investigação e contratos suspeitos
Latrell é dono de empresas suspeitas de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e que firmaram contratos com prefeituras e câmaras de diversas cidades do país, incluindo Sorocaba e Itatiba (SP). A investigação aponta que esses contratos foram obtidos por meio de pagamento de propinas a agentes políticos.
Uma operação realizada em abril de 2024 revelou um esquema de corrupção que envolvia repasses financeiros a autoridades. Na ocasião, foram cumpridos 42 mandados de busca e apreensão. Entre os documentos apreendidos, havia planilhas da empresa "Safe" e notas fiscais que mencionavam a Prefeitura e a Câmara de Vereadores de Sorocaba.
O primeiro contrato firmado com a prefeitura ocorreu em setembro de 2018, e o último, que valeria até abril de 2024, foi suspenso após a empresa abandonar o serviço. Já com a Câmara de Vereadores, a relação começou em 2020.
Conexão com Sorocaba
Segundo denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), a organização criminosa realizou entregas de dinheiro na Prefeitura de Sorocaba em 2022. O ex-secretário de Administração José Marcos Gomes Júnior, que atuou na gestão da ex-prefeita Jaqueline Coutinho (PRD), é citado nas investigações.
Interceptações feitas pelo Gaeco revelaram diálogos em que um motorista do grupo criminoso relatava a entrega de valores em diversas cidades, incluindo Sorocaba. Em 24 de setembro de 2020, por exemplo, um roteiro de entregas incluía Guarujá, Cubatão e Sorocaba, onde um contato identificado como "Júnior" receberia o dinheiro. O nome e o telefone do ex-secretário José Marcos Gomes Júnior aparecem nessas conversas.
Em resposta, José Marcos negou qualquer relação com o empresário e afirmou que seu telefone era de conhecimento público na época. Já a ex-prefeita Jaqueline Coutinho declarou desconhecer qualquer irregularidade e defendeu uma investigação rigorosa para esclarecer os fatos.
Contratos milionários e irregularidades
Duas empresas envolvidas no esquema mantiveram contratos com a Prefeitura e a Câmara de Sorocaba, somando R$ 26,6 milhões entre 2018 e 2024.
Safe Java Comercial e Serviços: Teve um contrato inicial com a Câmara no valor de R$ 620 mil, que foi prorrogado quatro vezes, totalizando R$ 1,4 milhão.
Vagner Dias Borges: Empresa do empresário preso firmou contratos milionários com a prefeitura, incluindo um acordo de R$ 6,2 milhões assinado em 2022, que posteriormente teve um aditivo de 10%, elevando o valor para R$ 6,8 milhões.
O MP-SP segue investigando o caso, e novos desdobramentos podem revelar mais envolvidos no esquema de corrupção.